terça-feira, 28 de julho de 2009

Aromas

Acordo, com as névoas libertinas e com o calor do sol que percorre o meu corpo extasiado. A janela, aberta, deixa passar uma brisa suave de aroma a morango, o sabor dos teus lábios.
Lembrei-me daquela noite. Os teus lábios haviam mudado de sabor, estavas diferente. Não eram só os lábios. O olhar, a vontade, a voz, o sorriso... Não eras tu. Digamos que de toda tu só o corpo estava presente. O teu respirar estava acelerado, a tua voz, trémula e gaguejante. Eram sintomas de nervosismo de algo que tinhas para contar. Querias contar e esconder, num conflito interior que não tinha fim.
Quando decidiste falar uma lágrima escorreu o teu rosto e veio morrer na minha mão que a limpou da tua cara. Soltaste outra e outra. Demos aquele abraço, lembras-te? Continuavam a nascer lágrimas nos teus olhos e vinham secar-se no meu ombro.
Percebi o que se passava. A tua tristeza invadiu-me e chorei também, por dentro, sabes que não é da minha natureza soltar lágrimas. Tinhas vindo anunciar a tua partida. Depois de tanto tempo juntos era o fim. Com tudo o que passámos e vivemos juntos acabava agora assim, repentinamente. É certo que as memórias irão ser eternas, mas ainda que boas não passam disso mesmo, memórias. Lembranças bem presentes em nós.
Lá no fundo eu sabia que um dia ia acabar, mas não me havia preparado. Era o transformar em dois mundos de um mundo que era só nosso. Ardeu. Doeu. Magoou. Corroeu. Matou.
Agora que te escrevo, em jeito de desabafo porque sei que não o irás ler, eu já o faço de sorriso vestido nos lábios. De facto o final podia ter sido melhor, mas fica a consolação de sabermos que o amor não chegou ao fim, foi simplesmente a presença física que deixou de existir.