domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Calçada e as Folhas

Era uma vez uma Calçada.
A Calçada achava-se muito importante por ser única no Mundo. Julgava-se melhor que tudo o resto e ai daquele que ousasse invadir o seu espaço. Era fria e os poucos amigos que tinha começaram a afastar-se dada a sua atitude arrogante e presunçosa.
Num certo dia de Verão, a Calçada caiu em si e percebeu que apesar de única não podia viver sozinha. Estava triste e desgostosa, pois todos aqueles que por ela passavam nem uma palavra lhe dirigiam. E os olhares que ainda se cruzavam com ela eram ora de reprovação ora de pena. Pensou para si que tinha de ser diferente. Pôs de parte toda a arrogância. Tomou um banho de humildade e tentou recuperar os seus ex-amigos. Tentou e tentou, mas ninguém acreditava em si. Julgou que não mais faria novas amizades, mas certo dia, e ao mesmo tempo que a chuva invadia o céu, folhas começavam a cair e a preencher cada uma o seu próprio espaço em cima da Calçada.
Sorriu.
O Outono havia chegado.
Naquele branco sujo da Calçada portuguesa, sobressaíam as castanhas folhas de Plátano que passo a passo a preenchiam de nova cor. Algumas, ainda com tom esverdeado, eram convidadas de honra. A Calçada, triste, mas acolhedora, recebia-as de braços abertos e escancarava-lhes a sua porta. As folhas, felizes por tal recepção continuavam a chegar. Sempre com ordem e calmaria, mas cada vez em maior número. Não tardaria para o branco se vestir totalmente de outra cor. E por isso, era legítimo que a Calçada se tentasse impor de novo por ter sido ultrapassada e substituída, mas ao invés, ela continuava a sorrir por receber novas amigas. E estas, traziam-lhe também sorrisos por poderem permanecer em tão boa companhia.
Assim, a Calçada fez montes e montes de novas amigas que a aqueciam do tempo frio e a protegiam da chuva.
A Calçada mudou. E agora, sempre que o fim do Verão chegava tudo se repetia. As amigas Folhas invadiam-na e ela rejubilava de alegria. No fim da estação, ela não se deixava entristecer, mas sim encher de saudade. E lá ficava ela, esperando o Outono seguinte, para fazer novas amigas.