domingo, 19 de junho de 2011

(Saudade) Se te esqueça

Se te esqueça, nas águas passadas de um moinho. Se te lembre, nunca mais. Não venha a dor trazer-te para mim se te quero mais perto da tua ausência.
A saudade surge-me como um ar sufocante, por excesso e não por escassez. Acelera-me a respiração mais e mais uma vez. Uma brisa forte e constante que nada me apraz, mas teima em me empurrar para ti.
Se te lembre, no futuro que me venha tocar. Se te esqueça, sempre que me lembre.
Não vá eu deixar de sofrer por te ter ao meu lado se tanto me corroí na tua presença, inconstante é certo, mas presença.(...)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Isto é o quê?

A sorrir com um choro divino. Tocam as cordas de um violino. No sopro sentido de uma flauta. Tocada sem seguir a pauta. Eu esqueço o que vem na memória. Num só fôlego tento mudar a história. Depois de um futuro. Passado e presente no escuro. Desenho a aguarela. Nas entrelinhas de uma tela. Pintada de sons. Ouvidos em vários tons. São cábulas de nós. Escritos a uma voz. Despejados no horizonte. Amontoados a... monte. Venho na brisa matinal. Chocar nas roupas do teu estendal. Que se desfiam em fios de algodão. E quando reparas, já nada tens na mão. Por serem efémeras e sucedâneas. Como as tuas gargalhadas momentâneas. Observas a vida andar para a frente. E quando abres os olhos de repente. Vês tudo o que sonhaste. E sentes que desabaste. Passou-te ao lado bem breve. Todo o Mundo e tão leve. E na ânsia de renascer. Deixas tudo por fazer. E continuas a morrer. Mesmo sem querer. E a desaparecer. Porque no acto de viver. Está a causa de deixar de ser.

domingo, 5 de junho de 2011

Amanhecer Sofia

Amanhecia Sofia com uma estranha dor que lhe enchia o corpo. Permanentemente estafada de sonhar o que não podia. De sofrer sozinha o que não conseguia partilhar com ninguém.
Em suma, interiorizava em si as dores reflectidas pelas paredes e tecto do seu quarto. A janela entreaberta deixava entrar o frio da neblina que lhe purpurava os lábios. Com o olhar desfocado, Sofia tentava extravasar os sentimentos contidos naquele quarto, o seu mundo, libertando-os de si para o exterior, o mundo alheio. Não obteve contacto. Os olhos, ligeiramente orientais, faziam adivinhar um corrupio de gotas salgadas. Sofia despedaçava-se por cada canto do seu mundo e sombreava-se em cada pedaço do mundo de outrem.
Passavam dias e dias. Meses e meses, anos e anos...

Sofia ali permanecia
E sempre amanhecia
Todo o santo dia
Nem uma vez sorria
Por viver em agonia!

Amanheceu Sofia, finalmente, com um sorriso nos lábios. O cheiro no seu mundo era intenso e nauseabundo. Os seus olhos mantinham-se fechados. Não mais lágrimas corrediças vagueavam pelo seu rosto. O seu corpo imóvel fazia adivinhar um sono profundo e inabalável.
Deixou de lutar. Revelava-se assim o segredo de Sofia.

Sofia já não vivia
Porque não queria
Nem conseguia
Ter mais um dia
Sem companhia!