domingo, 21 de outubro de 2012

Cães, todos nós

Não ponhas prato na mesa.
Hoje vais comer no chão.
Aguenta-te com firmeza
Nessa vida de cão.


Põem-te coleira ao pescoço
Tiram-te da tua família
Em troca de um osso
Pedem-te constante vigília

Querem que ladres todo o dia
E mostres os teus afiados dentes
Olhar de quem desconfia
Não importa o que sentes

És um cão muito mau
Ficas amarrado lá fora
Dão-te espinhas de carapau
E uma festinha de hora a hora

Cão de guarda, argumentam
Em tempos de criminalidade eufórica
Os assaltos aumentam
E atingem meta histórica

Já não precisam de ti
És votado ao abandono
A última vez que te vi
Caminhavas já sem dono

Pelas ruas da má sorte
Até chegar ao azar
De ver de frente a morte
E dar-lhe um último rosnar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Floresta de Virtudes

Prendo-me a ti nas noites dos dias em que me abandonas. Escondes-te nas sombras dos meus desejos e pairas na névoa dos meus sonhos. Flutuas nas incertezas das minhas vontades.
Acordado abro os olhos e reajo com todos os sentidos. A vida é uma floresta de sonhos, desejos e vontades. E não vou ser eu o lenhador a cortar ou queimar essa flora. Vou cuidar dela como se dela dependesse o ar que respiro. Dela e de ti. Que me atormentas quase todos os dias, que me aprazes quase todas as noites. Meu desejo, meu sonho, minha vontade! Também tu estás presente nesta minha floresta. Bem, na verdade tu és quase toda a floresta. Ou algo que se assemelhe a ti ou que dependa de ti. Todo o teu virtuosismo passeia por entre as árvores e lhes deixa o seu toque de Midas. Todas, quase sem excepção, possuem o teu carisma.

(...)