quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Inicial

Foi assim que tudo começou. Num pedaço de papel surgiram esboços de palavras. Os sentimentos fluíam inicialmente gota a gota, posteriormente num caudal imenso. O papel ia-se enchendo de vocábulos, vivências e sensações. Lentamente senti-me perder qualquer receio que pudesse ter de dizer o que quer que me apetecesse. Depositava experiências, pensamentos, convicções e valores. Nada ficava por dizer e tudo saía naturalmente. Como um sopro que liberta todo o ar existente dentro de nós, também a escrita solta as amarras das palavras que se apoderam constantemente da minha alma.
Gastavam-se o papel e a tinta da caneta. Desgastavam-se a caneta e os pensamentos. Perdiam-se horas e minutos. Ganhavam-se vida e alegria.
Assim, ganhei tanto gosto e prazer neste acto que sinto completar-me nele. É enorme a alegria quando vejo uma folha vestida de letras, pontuação e até riscos. Muitas são as palavras riscadas e muitas são as trocas feitas.
Com isto fui crescendo e aprendi a não deixar nada por dizer. Aprendi que até no silêncio se trocam palavras. Aprendi que os sentimentos são para partilhar. Enfim, aprendi muita coisa, mas sempre procurei ensinar também.
Agora que as palavras ficam escassas eu sinto-me orgulhoso porque cheguei ao fim de mais uma folha. Vestida, pontuada, riscada. E fica a sensação do dever cumprido porque mais uma página foi virada.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Destino


Caminho na vida
Não sei onde estou
Em jeito de despedida
Digo à morte que já vou
Está escuro no meu retiro
Quero a nocturna claridade
Traz o ar que respiro
Nesta densa cidade
Tirei à sorte o meu destino
Calhou-me em azar que era morrer
Mesmo assim não me previno
Todos deixamos de ser
Mais cedo ou mais tarde
Partimos noutra estrada
Enquanto a vida arde
Ainda não está queimada
Por isso onde ando
Nada me vem afectar
Vou vivendo em lume brando
Sem me deixar apagar
.