quinta-feira, 15 de abril de 2010

Leve Estranheza do Ser

(excerto)

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- Onde vai a vida quando a vemos passar?
- Para o mesmo sítio dos sonhos quando os deixamos morrer.
- E que local é esse?
- O cemitério da memória. É lá que enterramos tudo o que vivemos.
- E o que deixámos de viver?
- Também. Mas isso depositamos em urnas, como que se fosse cremado.
- E é comum as pessoas dirigirem-se a esse cemitério para homenagear e enfeitar as campas e urnas das memórias?
- Não. Fazemos isso com as das pessoas porque nos lembramos delas. As memórias estão enterradas de todo, não nos podemos lembrar.
- Nunca conheci a minha mãe, por isso não me posso lembrar dela, mas visito sempre a sua campa. Sempre a senti. Não podemos sentir as memórias?
- As que vivemos ou as que deixámos de viver?
- Todas. Eu sinto todas!

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