segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Água de Colónia (Continuação)

Aquela água perfumada caía no seu corpo como peixe na água. Há pessoas que têm o seu próprio cheiro característico. O seu era aquele. Que ao mesmo tempo que a perfumava e caracterizava dava um toque acetinado na sua pele. Macia. Que eu tanto gostava de tocar. - "Ainda gosto!" - pensei eu. Cristina deliciava-se usando aquela água, e eu, deliciava-me por vê-la extasiada e feliz. Não saía de casa sem fazer aquele odor tocar a sua pele. "Irá acompanhar-me para sempre." - dizia ainda, mas nunca liguei muito ao seu entusiasmo. Menos ainda depois de me ter dito o mesmo e de me ter abandonado. "Trocou a sua Colónia de sempre por uma nova Colónia." - pensei eu.
Cristina não era de muitas palavras, mas os seus actos repentinos e fiéis aos seus sentimentos deixam-me perceber tudo o que Cristina deixava por dizer. Desde cedo que a conheci bem. Naquele dia, da breve e insignificante despedida, Cristina levara uma máscara para tapar todo o sofrimento e dor que aquele momento lhe estava a causar. Eu tinha a certeza. Só podia ser isso. Na altura pensei que tinha passado a ser uma pessoa fria ou que nunca a tinha conhecido ao certo, mas depois de muito reflectir descobri que estava disfarçada. A sua essência não era aquela. Nem uma lágrima, nem um tremular de voz, nem um pestanejar de olhos sentido e sincero. Tudo foi fachada naquele último encontro.
Cristina era uma menina singela e delicada. Os seus tratos eram meigos e ternos. Era de uma simplicidade tão pura que qualquer dos seus gestos faziam transparecer aquilo que realmente significavam.

(Continua)

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