domingo, 2 de outubro de 2011

Água de Colónia

Os devaneios que me apoquentavam com as palavras presas em mim. As feridas incuráveis das memórias revividas. Naquele dia tudo se repetia. Os cruzamentos de olhares com os suspeitos do costume. As trocas de sorrisos com os habituais seres. O mesmo odor, já característico, de sempre naquele local. Os sonhos inalterados. As promessas intactas, ainda que adiadas. Os desejos, alguns sombrios e obscuros, permanecem.
Viver. Viver para sempre na eternidade daquele momento. "Um momento único e irrepetível." - diziam eles e com razão, achava eu.
Cristina saíra há pouco da minha vida. Havia ido para o estrangeiro trabalhar. "Colónia! Ela foi para Colónia." - disse-me sua mãe. Depois de alongada pesquisa descobri que é na Alemanha. Com a pressa da despedida nem percebi o que foi fazer nem para onde ia. Não temos falado desde então. Aguardo uma carta sua, talvez ainda de amor, esperava eu. Uma carta de amor com a despedida que ao menos merecíamos ter.
"Colónia!" - exclamei eu diante do espelho do carro. "De Colónia só conheço a água!" - e continuei. Aquela água de colónia que um dia lhe ofereci e que ela não mais deixou de usar. "Não há outro odor no mundo que se aproxime tanto de mim como este." - disse-me.

(Continua)

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