terça-feira, 4 de outubro de 2011

Água de Colónia (Continuação)

O seu jeito delicado era notório e todos a tinham em boa conta. Quando passeava pelo seu bairro, Cristina era brindada com sorrisos a cada passo que dava. As pessoas nutriam por si imenso carinho e admiração. Viram-na crescer e aprender. Era filha daquele bairro. Um bairro típico da capital. Casas pequenas encimadas umas pelas outras. Estendais a pender das janelas que quase tocavam as casas da frente. Mesmo em suas casas as pessoas conviviam de forma assídua e rotineira com os vizinhos. As janelas eram próximas dadas as ruas apertadas de um só sentido. As varandas e as escadarias que adornavam e ornamentavam as pequenas casas e prédios eram todas dotadas de vasos com flores e ervas aromáticas. Não faltavam a salsa e os coentros, nem tão pouco as rosas e os cravos. Casas havia ainda que eram vestidas por buganvílias com hortênsias a seus pés. Alguns poderiam achá-lo um exagero, mas o que é certo é que dava mais vida e cor ao bairro. Isso e os constantes bandos de crianças, outrora em maior número, que subiam e desciam a rua ora para brincar, ora para fazerem recados a suas mães e vizinhas. Cristina foi uma dessas crianças. Era a mais responsável, simpática e predisposta a ajudar no seu grupo de infância. Quase todas as suas vizinhas aproveitavam os seus préstimos para lhes fazer recados. E as que não aproveitavam era por falta de tempo ou por vergonha de pedir. Cristina não se importava. Gostava de ser e de parecer mais adulta que os restantes amigos. Descer a rua com sacos na mão vinda da mercearia da Dona Rosa ou subir vinda do talho do Senhor Armindo na rua de baixo eram as suas brincadeiras preferidas. E ainda costumava ficar com o troco para guloseimas ou para ajudar a sua mãe no pouco que pudesse. Nunca teve grandes ambições no que diz respeito a brinquedos. Apenas queria poder manter aquele ar responsável que fazia com que todos os seus amigos a respeitassem e quase idolatrassem. Era sempre a líder do grupo. Não voluntariamente, mas quase sempre por indicação de outros ou por falta de capacidade dos restantes para assumir responsabilidades.

(continua)

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